domingo, 15 de fevereiro de 2009

«Da maneira que falaste, perdeste a razão!»


Ora aqui está uma frase com a qual concordei por muito tempo, tempo demais, tendo-a usado até para alertar amigos que via exaltarem-se... mas hoje reparo como é idiota esta expressão: se se tenho a razão, se ela me assiste, se está em meu poder, bem posso ser malcriada, arrogante, colérica, insuportável, histérica até... se com tudo isto conseguir manter os meus argumentos numa linha de coerência, independentemente dos decibéis com que me expressar, manterei como minha a minha razão...

2 comentários:

Manel Cunha Calado disse...

sim,
mas é muito mais elegante expressar a razão de forma contida...

:)
tnks

Anónimo disse...

“Oh, o eterno argumento entre a forma e a substância!”, dizia para si mesmo Raul Brandão, sentado num banco de jardim.
Perto dele, “Se tivesse de Recomeçar a Vida” conversava com “A Morte do Palhaço”, à porta de “Bernardo Soares & Pessoa, Alfaiates”.

Entretidos, observavam um casal que passava pela rua -- ele conduzia o carro. Com a sua apurada audição, conseguiram, ouvir o que diziam


- Querido, trava já!
- Não grites comigo, qnd estou a guiar. Sabes que….
… Kabooom!! Bang! Crash! Kabooom! Clink, clink clink!!!

Oh! Viste aquele acidente? O carro enfiou-se contra a camioneta!!!
Nem Travou!!!!!
- O que se terá passado?

- Nunca saberemos, exactamente. Ele, morreu, ela, está em coma!

Sempre profundo, Raul Brandão comentou:
“Sou todo a favor das boas-maneiras, da elegância, do sentido estético, na vida.
Porém há alturas em que temos de gritar, berrar. De vez em quando, para que a substância prevaleça, temos de ser mais assertivos na forma.

Custa tanto ver alguém, a conduzir de olhos fechados pela cidade.
Por vezes, uns rugidos e uns abanões são a única forma de se acordar quem se move, sem reparar no trânsito, nos obstáculos, nos semáforos.
Avançar, sim, mas com um sentido estratégico do mundo e das coisas.

The World is a stage, life is a play and we all are actors!!!

Temos pois de estar atentos às vozes dos outros actores, aos murmúrios do “ponto”, às indicações do contra-regra, às reacções do público -- e, claro, ouvir os críticos, sobretudo aqueles que não se expressam segundo um processo de intenção, antes visando ajudar os actores a progredir na carreira.

È por isso que gritamos com os amigos. Quando deixarmos de gritar é mau sinal….

Todos precisamos de alguém que nos diga, “Mas que grande argolada, não desvias ter feito isto e dito aquilo”
Necessitamos tanto disso como de alguém que nos diga, “Oh, exprimiste-te muito bem, foste fantástico”.

Aprendo todos os dias -- com uma criança, com um vagabundo, com os catedráticos…
… os rios, então, dão-nos grandes lições. Não seguem a direito, cegamente, como um touro. Não!
Estudam o terreno, fazem uma leitura atenta do contexto e avançam, procurando os pontos mais vantajosos.
Podemos aprender tanto, ouvindo o correr dos rios!”

“Oh, este Raul Brandão é impagável!”, disse “Se tivesse de Recomeçar a Vida” ao amigo “A Morte do Palhaço”. E lá ficaram, à porta de “Bernardo Soares & Pessoa, Alfaiates”, observando a vida a passar, apressada!

Curiosamente, nunca lá entraram nem vestiram nada feito por eles…mas o mundo é feito de encontros que nascem de desencontros!

Lobo