ao longe o rio

de que vale querer saber
o rio separado do céu
se juntos são bela imagem
se estão unidos já
mesmo antes de estar
mesmo nunca estando

Será que o Nick Cave leu Mário de Sá-Carneiro?

"Vou-te matar o corpo para dar mais vida à alma... vou-te dar a eternidade... fazer parar o tempo... espera... não grites... não tenhas medo... nem faz doer... nem faz doer... E mesmo que fizesse... É para seres feliz... muito feliz..."

(Mário de Sá-Carneiro, in Loucura...)

Roads...

seguir em frente... aumentar a velocidade, fazendo com que aquilo que nos parece descontínuo, incerto, cortado, possa parecer capaz de ter continuidade... do outro lado a berma, precipício ou prado, queda ou passeio, vida... deixando para trás de quem se precisa, o que se precisa e quem precisa... deixando para trás um pedaço do coração, partido pela força da distância, pela fraqueza dos sonhos e pela impotência das escolhas... mas desta vez, à frente, algo mais do que o caminho sempre igual, entre o ter de ser e o ir vivendo... desta vez, a estrada abre-se à minha frente e vislumbra-se o horizonte, com todas as suas infinitas possibilidades...

Realmente...

só num país como este faz sentido um ditado como "quanto mais me bates, mais eu gosto de ti"... ou "continuo a gostar de ti", enfim... que fazer a estes masoquistazitos inconscientes?



... chapadas na cara não adiantaria... ainda acabavam por gostar!!!

Quando se afina a sinfonia que é a vida...

Sabe bem ter-te por perto
Sabe bem tudo tão certo
Sabe bem quando te espero
Sabe bem beber quem quero

Quase que não chegava
A tempo de me deliciar
Quase que não chegava
A horas de te abraçar

Quase que não recebia
A prenda prometida
Quase que não devia
Existir tal companhia

Não me lembras o céu
Nem nada que se pareça
Não me lembras a lua
Nem nada que se escureça

Se um dia me sinto nua
Tomara que a terra estremeça
Que a minha boca na tua
Eu confesso não sai da cabeça

Se um beijo é quase perfeito
Perdidos num rio sem leito
Que dirá se o tempo nos der
O tempo a que temos direito

Se um dia um anjo fizer
A seta bater-te no peito
Se um dia o diabo quiser
Faremos o crime perfeito

[Miguel A. Majer]

Contradições... (ou nem por isso!) XXX

por mais forte que seja a personalidade, por mais consistente que seja a maneira de ser... mais maleável se torna às mãos do escultor que bem saiba moldar!

"Já é Outono..."

sussurra o vento, meigamente, aos ouvidos da pequena árvore, tentando consolá-la da perenidade das suas primeiras folhas, envolvendo-a num abraço que afaga e condescende, que percebe e anima...

ele toma as dores da culpa, de a ter deixado assim, despojada... mas sabe que só levando estas, outras poderão nascer e, mesmo que o não fizesse, assim de repente como quem tira um penso rápido, elas acabariam por cair, sozinhas, com o tempo, a mudança, a renovação...

e de cabeça baixa, pelo peso da reprovação lançada pela arvorezinha, ele espera que ela não se conforme, não se pense capaz e suficiente assim nua, sozinha, porque toda a vida é uma história e toda a história precisa de folhas, onde registar os seus anseios, onde desabafar os seus nervos...

e enquanto a pequena seca as lágrimas ao vento, só quando olha para as folhas sopradas e caídas, se apercebe de que nunca as poderia voltar a prender a si; mesmo que o tentasse, nunca o conseguiria de forma natural...

e então os sussurros, aos seus ouvidos, doce sinfonia se tornam!...

"Quem muito dorme, pouco aprende..."

... mas quem pouco dorme, pouco ensina!
[porque não há cabeça cansada que se consiga concentrar e pôr em ordem tudo o que se 'aprende' quando se devia estar a dormir ;)]

Um rio de prata

onde um pôr-do-sol
dos que só há assim
reflecte a espera
de quem está em paz...
e inspira desejos
de brilho...
de vida!

Sinfonias...

... que se compõem de uma nota só...

o Dó...

de quê? de quem? de mim?

... não sei...

flutuando no escuro

Os estores estão corridos... as portas fechadas... ele vê de fora a pequena casinha outrora alegre e colorida que, aos seus olhos, cintilante fortaleza se torna...

Contornando-a em círculos, procura brechas, fendas, um orifício que o deixe ver as cores do seu sonho, nestes esforços desgastando a lucidez, desfalecendo encostado à porta, que afinal não estava trancada...
E o sol sem entrar... e as plantas lá dentro, sedentas de luz e calor, transformando-se em folhas secas... apenas os cactos sobrevivem, espinhosos, agrestes...

Discurso Directo XV

(...)
- Claro que a felicidade existe... senão por que teriam inventado a palavra?
- Pois, pois... Vê lá mas é se agora, ao saíres, não esbarras com nenhum unicórnio pelo caminho...
(...)

Hoje sinto-me...

... "not the kind of girl you'd take home"!

Como prender alguém que decidiu viver, não importa até quando, como se cada dia fosse o último... como fazer depender desse alguém a sua felicidade... como não ver que isso seria uma responsabilidade insuportável?

A vida

passa por nós... por vezes nem sentimos, mas depois... vendo esfumaçar os ícones de uma adolescência, que se sente perto mas que se afasta a passos largos, sentimo-la então passar e acabar...
faleceu hoje de madrugada um dos primeiros homens por quem me apaixonei... que me fez apaixonar pela dança e pelo cinema... como ficar indiferente?
porém, todos morremos, é certo, mas nem todos vivemos de facto!...

Contradições... (ou nem por isso!) XXIX

tal é a ânsia de liberdade, de viver, sem pressões, sem controles, que se abomina o cuidado, o interesse, a preocupação de que se é alvo... tal é o repúdio por tais atenções, que elas acabam inevitavelmente por se retrair... e depois sente-se a falta, das cautelas, dos desvelos, que (nos) tornam algo especial!...

Hoje sinto-me...

... uma Rua... simplesmente!

Nome de rua quieta,
Onde à noite ninguém passa,
Onde o ciúme é uma seta,
Onde o amor é uma taça.
Nome de rua secreta,
Onde à noite ninguém passa,
Onde a sombra do poeta,
De repente, nos abraça!

reflexo de mim

detesto esta sensação de ter gostado de estar, mas se não tivesse estado teria gostado também... esta sensação de tanto fazer, de tanto me dar, de 'tar nem aí, de indiferença...
quero sentir, quero pensar que há momentos que são irrepetíveis e indispensáveis, que há pessoas que são essenciais e sem as quais a minha existência não faria sentido... quero viver, viver de verdade, nem que seja para morrer, mas, ao acontecer, que eu sinta que existi de facto, pois doutra forma nem a morte terá valor!...

Por favor...

Seria possível arranjar-se por aí um fim-de-fim-de-semana... só para ver se eu descanso um bocadinho?...

Hoje sinto-me...

... expectante, mas assustada!

I want one moment in time
When I'm more than I thought I could be
When all of my dreams
Are a heart beat away
And the answers are all up to me
Give me one moment in time
When I'm racing with destiny
Then in that one moment of time
I will feel, I will feel eternity

"Ninguém tem uma segunda oportunidade de causar uma primeira boa impressão!"

...ou, "as coisas têm que começar mal para depois poderem ter por onde melhorar"?

Enfim, trabalhices...

Discurso Directo XIV

- Então... que achas?
- Acho-o impecável, mas...
- Mas o quê?
- Diferente de ti...
- Como assim?
- Talvez... muito adulto...

[a culpa é - ironicamente - toda de Marx... mas porque é que ele não inventou uma coisa mais saborosa? porque é que ele minou todas as minhas possibilidades de me tornar uma pessoa adulta?]

"Deixai vir a mim as criancinhas"

Pequenitos, podeis finalmente respirar de alívio, que acabou o vosso suplício; vão começar as aulas, acabam as férias e as correrias atrás dos papás, entre a casa dos avós, a casa dos outros avós, o ATL, a colónia de férias e etc., etc. ...
Nem imaginais como era bom no meu tempo*, em que férias eram férias, em quantidade e em qualidade, em que não se fazia patavina... e mais: podíamos portar-nos mal que, lembrarem-se de que podíamos ser hiperactivos?... ainda não estava na moda!... no máximo, levávamos uma palmada... o que ainda iria valer muito mimo, fruto do sentimento de culpa criado...

*Um tempo não muito distante... e tão distante afinal!

[infelizmente, também me custa muito dizer-vos - mas alguém terá de o fazer e ultimamente tem-me calhado a mim o papel da mais mazona da fita... - que provavelmente vos porão a lavar as mãos como se não houvesse amanhã... não sei, quer-me parecer... ]

Hoje sinto-me...

... com saudades do que ainda não foi!

nem me atrevo a escrever o quê, que os sonhos são assim, silenciosos... e têm de ser manuseados com todos os cuidados pelo nosso pensamento, pois são o mais precioso alimento da nossa alma!...

crazy weekend... lazy week!

e sim, casar à tarde é chiquérrimo, os convidados estavam todos lindos de morrer e os noivos nem se fala...
mas não, não é assim tão bom não nos avisarem que o copo de água será numa quinta no meio da serra, porque os casacos ficaram esquecidos, mas o frio não...
e sim, era uma quinta fabulosa, entre as montanhas e, ao mesmo tempo, com vista para o mar, paradisíaca, portanto...
mas não, estar tudo delicioso (desde a comida, aos Mai Tais, caipirinhas e outras bebidas em geral, música, companhia, karaoke e etc.) não é só vantagens, porque o pessoal não descola, vai ficando até ao sol raiar e só saímos de lá com os noivos...
e sim, custa muito ir dançar a carvalhesa e gritar palavras de ordem com apenas duas horas dormidas...
e não, não há festa como esta, pena termos podido ir só um dia (para o ano será diferente)...
mas sim, é complicado ir trabalhar depois de tanta agitação e de um fim-de-semana daqueles que não mata mas mói...
e não, não há nada melhor do que dias cheios de boas recordações, para nos fazerem desligar de horas e horas de discussões absurdas... sem que se decida se os anjos o fazem de pé ou sentados!

Amanhã...

o dia será de sol, de estrear o vestido novo, de calçar os saltos altíssimos, de encher o bandulho (é com u?), de tentar transformar em alegria a seca que me impede de ir ao avante...

Hoje sinto-me...

... black...

... da cor da tristeza, da distância, da ansiedade...

Será...?

Quando se recebe uma sms com frases daquelas que, fossem enviadas a outras pessoas e pareceriam ridículas, mas que nos deixam com um sorriso na cara, daqueles que estupidificam a expressão... quando se lê a mesma mensagem vezes sem conta... quando nem é preciso responder, porque simplesmente não é preciso, porque não há pressas, nem pressões, nem expectativas desgastantes... quando esta mensagem é apenas uma, entre as outras que se guardam com cuidado e não são vítimas do delete quase automático que elimina todas as restantes... quando isto acontece, o que será?

É em momentos como este...

que custa muito estar longe de quem amamos... a nossa presença lá de pouco adiantaria, mas sabermo-los perto de nós como que nos sossega!... também nos sossega a certeza absoluta de que tudo vai correr pelo melhor...